Rio Neva, no centro de São Petersburgo
Centenário da Revolução Russa - Parte 1
O estudo da Revolução Russa pode ser feito de vários
modos e sob diversas perspectivas. Após 110 anos deste importantíssimo
acontecimento, foi publicada uma quantidade enorme de estudos sobre este
evento.
Nestas postagens
farei uma abordagem sob a perspectiva de um grupo de professores que se
preparou e realizou uma visita a São Petersburgo e Moscou, nos dias 02 a 09 de
novembro de 2017.
Nesta
primeira postagem faço uma descrição panorâmica e nas próximas farei abordagens
mais específicas. Primeiro sobre São Petersburgo e posteriormente sobre Moscou.
São Petersburgo
Esta
cidade foi o palco principal da Revolução de Outubro (25 de outubro, de acordo
com o Calendário Juliano, adotado durante o período dos czares; 07 de novembro,
de acordo com o Calendário Gregoriano, adotado pelos soviéticos). A cidade
recebeu três nomes ao longo de sua história. Originalmente, São Petersburgo,
para homenagear São Pedro, mas de forma disfarçada, homenagear seu fundador,
Pedro, o Grande. Durante um breve período da Primeira Guerra Mundial, adotou o
nome de Petrogrado, para evitar o nome aparentemente germânico (Petersburgo).
Três dias após a morte de Lênin, a cidade ganhou o nome de Leningrado. Após o
fim da União Soviética, retornou ao nome original.
Instituto Smolny
O
primeiro local de visita foi o "Instituto Smolny de Donzelas Nobres". A escola
tinha por objetivo “educar” as mulheres da aristocracia do período dos czares
para serem boas esposas. Tinham aulas de boas maneiras, piano, francês, entre
outras áreas de formação. Em agosto de 1917, o edifício já não cumpria mais esta
função, então foi ocupado pelos bolcheviques. Em setembro deste ano Trotsky instalou
ali a sede do Soviete de Petrogrado. Lênin passou a morar e trabalhar neste
local. Foi no salão deste instituto que Lênin declarou que os bolcheviques
haviam tomado o poder, no dia 25 de outubro.
Atualmente
o prédio é usado como uma repartição pública da administração da cidade de São
Petersburgo. O quarto e escritório de Lênin foram preservados, com todos móveis
e objetos pessoais. Uma ala do edifício foi transformada em museu, com muitas
obras de arte, fotografias e painéis com apresentações didáticas sobre o
período da Revolução. O acesso a este local é muito restrito. É preciso solicitação
especial para fazer a visita.
Hermitage
O
monumental Museu Hermitage é, fisicamente, o maior museu do mundo. Com dez
edifícios, mais de mil salas e mais de três milhões de obras de arte. Além dos
artistas russos, tem obras de artistas do mundo todo, com destaque para os europeus: Leonardo da Vinci,
Michelangelo, Rembrandt, Kandinsky, Van Gogh, Velázquez, Cézanne, Gauguin,
Goya, Degas, Matisse, Renoir, Monet, Picasso.
Um dos
edifícios do museu é o Palácio de Inverno, que foi residência dos czares e sede
do Governo Provisório, em 1917. Local da tomada do poder pelos Bolcheviques, no
dia 25 de outubro.
A
imponente Praça do Palácio foi cenário do massacre de 1905, conhecido como o
“Domingo Sangrento”. No dia 09 de janeiro, o Padre Giorgi Gapon liderou uma
multidão de fiéis até o Palácio de Inverno, para pedir pacificamente ao czar,
medidas de combate à fome. A iniciativa do padre foi apoiada pelos movimentos
de trabalhadores em geral. Ao chegarem na frente do Palácio, a multidão foi
brutalmente atacada pelas tropas do czar, resultando em inúmeros mortos e
feridos.
Para melhor visualização das obras de arte, recomendo que entrem nos sites especializados ou no site do próprio Museu Hermitage: http://hermitage--www.hermitagemuseum.org/wps/portal/hermitage/?lng=pt
Cruzador Aurora
O
cruzador Aurora é o mais famoso símbolo da insurreição de outubro. Foi dele que
partiu o tiro de canhão, senha para a tomada do Palácio de Inverno. Durante a
2ª Guerra Mundial, quando os nazistas estavam ameaçando tomar Leningrado (São
Petersburgo), os soviéticos afundaram o cruzador no mar, temendo que ele fosse
tomado pelos inimigos. Depois da Guerra ele foi recuperado e transformado em
museu.
Fortaleza São Pedro e São Paulo
Esta
fortaleza é um dos lugares mais representativos de São Petersburgo. Construída
em 1703, pelo czar Pedro, o Grande, mesmo ano da fundação de São Petersburgo.
Esta construção é obra de muitos escravos e prisioneiros de guerra suecos,
sendo que inúmeros deles morreram afogados nos perigosos pântanos existentes no
local.
A
fortaleza conta com várias referências, vamos destacar duas: a catedral e o
presídio.
Catedral de São Pedro e São Paulo
Construída
entre os anos 1712 e 1733, em 1720 instalaram nela um carrilhão (de sinos),
comprado pelo czar Pedro, o Grande, em Amsterdã. Durante anos o carrilhão
tocava o hino religioso “Glória de Deus” e o Hino Nacional “Senhor, protegei o
Czar”. Após a Revolução o carrilhão ficou um longo período sem tocar. Em 1952
ele tocou o Hino da União Soviética. Após o fim da União Soviética ele voltou a
entoar os hinos da época czarista.
Dentro desta catedral
barroca fica o túmulo dos Romanov, dinastia que dominou a Rússia de 1613 a
1917. Estão enterrados o fundador da cidade, Pedro, o Grande e a família de Nicolau
II, executada em 1918, durante a Guerra Civil.
Presídio da Fortaleza
Esta
prisão foi construída pelo czar Pedro, o Grande e um dos primeiros presos foi
Aleksei, seu filho. Acusado de traição, pelo próprio pai, sofreu horríveis
torturas (inclusive na presença do pai) e foi executado em 1718.
Ao longo dos
séculos e, especialmente, na segunda metade do século XIX e início do século
XX, inúmeros intelectuais e líderes revolucionários foram colocados nesta
prisão, dentre eles: o escritor Máximo Gorki; o anarquista Bakunin; o
revolucionário Trotsky; o irmão mais velho de Lênin, Alexander Ulyanovi; a
revolucionária Vera Figner; o escritor Dostoievski.
O caso de Dostoieviski é
impressionante, porque quando ele estava diante do pelotão de fuzilamento,
prestes a ser executado, chegou um documento do czar, comutando a sua pena de morte
em prisão na Sibéria. O escritor foi preso por participar dos círculos
revolucionários de São Petersburgo.
Museu Casa de Dostoievski
Fora da
Fortaleza, no outro lado da cidade, fica o museu. Trata-se da última casa em
que viveu Dostoievski. Foram preservados seus objetos pessoais, móveis da casa
e brinquedos das crianças. Tem um espaço anexo, propriamente um museu, com seus
manuscritos, ilustrações dos livros, fotografias, obras de arte, enfim, um
paraíso para os amantes da literatura russa.
“Spasiba” (obrigado!)
Obrigado
para você que chegou até aqui na leitura.
Evidentemente
que ao nos debruçarmos sobre os estudos da Revolução Russa, estamos refletindo
sobre os processos de transformação pelos quais passaram inúmeros povos. A luta
pela emancipação humana é muito árdua, mas realizadora. A pessoa se torna mais
humana, na medida em que luta pela libertação de todas as opressões e pela
libertação do maior número de pessoas. Temos muitas lições para tirarmos da
Revolução Russa, mas também temos muitas contribuições para oferecer na luta
internacional dos povos por libertação.