segunda-feira, 10 de agosto de 2020

“O novo coronavírus contaminou a Comunicação?”

 


        Todo bom "Café Filosófico" deve partir de um bom questionamento. O tema deste Café pretende enfrentar uma questão crucial para a Faculdade de Comunicação: que fazer após a contaminação da Comunicação?

            Sinteticamente podemos elencar alguns pressupostos para a abordagem deste problema:

            Considerando a quantidade enorme de notícias falsas circulando; a onda de negacionismo e anticientificismo; as campanhas contra as vacinas; as campanhas de criminalização dos professores, cientistas, pesquisadores, intelectuais.
            Considerando que as plataformas de mídias sociais foram omissas no trato da circulação de notícias falsas, do discurso de ódio e da criminalização da Política.
            Considerando que as mídias tradicionais adotaram a "doutrina do pensamento único" e legitimaram ideólogos do obscurantismo.
            Podemos constatar que o resultado desta onda obscurantista contaminou mortalmente a Comunicação: o novo coronavírus atingiu o pulmão, afetou o olfato e o paladar da Comunicação. E agora? A Comunicação irá para UTI, terá respiradores, algum tratamento, vacina?

            Estas e outras questões serão abordadas pela Profa. Eliane Salvatierra e pelo Prof. Daniel Ladeira.


Eliany Salvatierra Machado

Doutora em Ciência da Comunicação pela ECA-USP, Mestre em Ciência da Comunicação com Habilitação em Rádio e TV (2002), Especialista em Filosofia da Educação pela UFMS (1996) e Graduada em Artes Visuais, Licenciatura pela UFMS (1994). Professora da UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ, no Departamento de Cinema e Audiovisual - CINEVI/IACS; Especialista em Educomunicação (ECA-USP). Reside em Niterói (RJ).




Daniel Ladeira de Araújo

Doutor em Ciências na área de Comunicação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP)/Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PROLAM) com reconhecimento pela Universidade Nova de Lisboa, nas Faculdades de Ciências Sociais. Mestre em Comunicação pela Universidade Paulista. Possui graduação em Jornalismo pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas/Faculdades Integradas Alcântara Machado. Atualmente é Sócio Diretor da aKompas Educacional, onde dirige as áreas Pedagógica e de Comunicação. Foi Supervisor Pedagógico do Curso de Jornalismo da ESPM-SP e professor das disciplinas de História do Jornalismo e Planejamento de Comunicação. Além disso trabalhou durante 15 anos na área comercial da TV Globo SP onde atuou como Gerente de Operações Comerciais com projetos da Globo Internacional, Institucional, Merchandising e Promoções. Atualmente reside em Braga (Portugal).


            Para participa no Café Filosófico basta clicar no link abaixo:

https://meet.google.com/hvf-bavg-str


        As questões para o debate podem ser enviadas com antecedência e durante a realização do evento!


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Relato sobre um curso de férias na quarentena


Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro)


Curso sobre: “Filosofia, Literatura e Envelhecimento”


Datas: 08, 15, 22 e 29 de julho de 2020 (quartas-feiras)

Horário: 19h30

Duração de cada aula: 01h30


Pela internet - Plataforma Google Meet

Gratuito

20 vagas

Inscrições: proffrancisconunes@gmail.com


Público alvo: Profissionais que trabalham e/ou estudam com o tema Envelhecimento e demais profissionais interessados/as.


Faixa etária: intergeracional


Professor: Francisco José Nunes

Mestre em Ciências Sociais (PUC-SP), Graduado em Filosofia e Professor na Faculdade Paulista de Comunicação - FPAC (Av. Paulista, 2200).



Sobre o curso:


Ler, analisar e refletir sobre três contos da literatura brasileira que tratam da situação da pessoa idosa é um convite à Filosofia em tempo de pandemias.

No conto “O Enfermeiro”, de Machado de Assis, vamos encontrar duas figuras instigantes: o “enfermeiro” Procópio Valongo e o idoso Coronel Felisberto. Este conto sintetiza a “filosofia pessimista” de Machado de Assis: através do desvelamento da hipocrisia do sistema de valores das instituições da sociedade; através do convite à reflexão sobre o sentido da existência humana; e através do destaque que dá à importância das memórias na vida de uma pessoa.

No conto “O Famigerado”, de Guimarães Rosa, vamos encontrar no personagem Damázio “dos Siqueiras”, a pessoa idosa, que praticou ao longo da vida inúmeros assassinatos e crimes. Entretanto, ele encontra-se extremamente incomodado diante das dificuldades impostas pela linguagem culta. Damázio foi tratado por um funcionário público por “famigerado” e pretende saber o significado da palavra para tomar uma decisão. Alega que não pretende entrar em conflito com o Governo, porque não está mais “com saúde nem idade”. O genial Guimarães Rosa vai provocar uma rica reflexão sobre a “Filosofia da Linguagem”!

No conto “O Grande Passeio”, de Clarice Lispector, encontraremos a personagem “Mocinha”, uma pessoa idosa, negra, trabalhadora doméstica, com sinais de demência, sofrendo todo tipo de exclusão social. É um conto muito duro; retrata o pensamento comum da classe média brasileira. Clarice Lispector provoca um turbilhão de sentimentos e de questionamentos.

O curso seguiu três momentos: a) análise do conto; b) abertura para comentários e questionamentos; c) conclusões sobre a relação entre a análise literária e a reflexão filosófica.

O curso foi ministrado com base em três objetivos: 1) criar um ambiente de reflexão sobre o envelhecimento; 2) criar um grupo de estudo sobre Filosofia, Literatura e Conhecimentos Gerais; 3) criar uma rede de integração entre pessoas que buscam pelo conhecimento e pelos valores mais elevados dos seres humanos (a fraternidade, a partilha, a compaixão e a solidariedade).

Nelson Mandela dizia: “O verdadeiro caráter de uma sociedade é revelado pela forma como ela trata as suas crianças”. Também poderíamos dizer que: “O verdadeiro caráter de uma sociedade é revelado pela forma como ela trata as pessoas idosas”!


Programação


08/07: 

  1. Apresentação do curso;

  2. Integração dos e das participantes.


15/07: 

  1. Apresentação e análise do conto: “O Enfermeiro”, de Machado de Assis;

  2. Abertura para debate do conto;

  3. Conclusões e encaminhamento do próximo conto.

22/07

  1. Apresentação e análise do conto: “O Famigerado”, de Guimarães Rosa.

  2. Abertura para debate do conto;

  3. Conclusões e encaminhamentos do próximo conto.


29/07

  1. Apresentação e análise do conto: “O Grande Passeio”, de Clarice Lispector.

  2. Abertura para debate do conto;

  3. Conclusões da análise do conto e do curso;

  4. Avaliação da experiência.


Objetivos do curso:


  1. Criar um ambiente de reflexão sobre o tema Envelhecimento;

  2. Criar um grupo de estudo de Filosofia, Literatura e Conhecimentos Gerais;

  3. Criar uma rede de integração entre pessoas que buscam pelo conhecimento e pelos valores mais elevados dos seres humanos (a fraternidade, a partilha, a compaixão e a solidariedade).


Link dos contos:


  1. “O Enfermeiro”

https://esteticaemmovimento.blogspot.com/2020/06/conto-o-enfermeiro-de-machado-de-assis.html


  1. “O Famigerado”

https://esteticaemmovimento.blogspot.com/2020/06/conto-o-famigerado-de-guimaraes-rosa_22.html


  1. “O grande passeio”

https://esteticaemmovimento.blogspot.com/2020/06/conto-o-grande-passeio-de-clarice.html


Bibliografia


AQUINO, Leão de [et al.]. Sociedade Brasileira: uma História através    dos Movimentos Sociais. Rio de Janeiro: Record, 2000.

ASSIS, Machado. “O Enfermeiro”, in: Várias Histórias. Belo Horizonte: Editora Garnier, 2010 [1896].

BEAUVOIR, Simone. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018 [1970].

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix: 1982.

CANDIDO, Antonio. Vários Escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos Pré-Socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

LISPECTOR, Clarice. “O Grande Passeio”, in: Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1971.

MOSER, Benjamin. Clarice, uma biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

REDONDO, Tércio. De luz e de sombras: uma análise de “O Enfermeiro”, de Machado de Assis. Revista Magma n. 5, p. 83-87, 1998.

ROSA, Guimarães. “O Famigerado”, in: Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962.

SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000.

WISNIK, José Miguel. O Famigerado. Revista Scripta, Belo Horizonte, v. 5, n. 10, p. 177-198, 1. sem. 2002.


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A Bomba Atômica em Hiroshima e Nagasaki, 75 anos depois.



A Bomba Atômica em Hiroshima e Nagasaki, 75 anos depois.
(Autor: Francisco José Nunes)

No dia 6 de agosto de 1945 a cidade japonesa de Hiroshima foi atingida pela primeira bomba atômica da história da humanidade.

Eram 8h15 da manhã (hora local) quando o Boeing B-29, pilotado por Paul Tibbets, atirou a bomba, resultando na morte de cerca de 140 mil pessoas.

O avião foi batizado com o nome de “Enola Gay”, nome da mãe do piloto. Após afastar-se do local da explosão, o copiloto Robert Lewis, observou o tamanho da tragédia e indagou: “Deus, o que fizemos”?

Esta bomba não foi suficiente para obrigar o Imperador Hirohito a assinar o acordo de rendição.
No dia 9 de agosto, às 11h02, os EUA atiraram a segunda bomba atômica, desta vez na cidade de Nagasaki, resultando na morte de cerca de 70 mil pessoas.

A bomba atômica, além dos efeitos materiais, também resultou em inúmeros efeitos simbólicos. Dentre eles, o nascimento da “Pós-Modernidade”. Esta “condição pós-moderna” que os filósofos identificaram ao longo da segunda metade do Século XX.

A eclosão da Primeira e da Segunda Guerra Mundial , culminando com a explosão da bomba atômica, colocou em xeque os ideais da Modernidade. Caracterizada pela supervalorização: da Razão, da democracia burguesa e do desenvolvimento tecnológico. A morte de milhões de pessoas e a destruição de vários países, principalmente na Europa, evidenciou a “crise da Modernidade”. Algumas das questões colocadas foram: por que a Razão é incapaz de deter a barbárie? Por que o fascismo e o nazismo nasceram na Europa? Este modelo de “Civilização Ocidental Cristã” deve ser a referência para a humanidade?

A bomba atômica desencadeou uma série de mudanças na maior parte da humanidade. Dentre elas destacamos duas: o neo-individualismo e a despolitização.

Diferentemente do individualismo da modernidade (indivíduo livre e autônomo, superando o coletivismo da Idade Média e se apropriando das conquistas da Revolução Francesa), o neo-individualismo pós-moderno é caracterizado pelo descompromisso, pelo “não tô nem aí” e mais recentemente pela expressão popular: “foda-se”.

São características desse neo-individualismo: o narcisismo, o hedonismo e o conformismo. O narcisismo centrado no culto ao próprio corpo, atingindo uma espécie de “corpolatria”. Caracterizado pela grande ocupação de tempo na academia de educação física, exercitando os músculos; e, nos salões de beleza cuidando da estética pessoal.

O hedonismo ocupa o principal objetivo na vida da pessoa; adota-se o lema “Carpe diem”, isto é, aproveite o momento. Só faça coisas que proporcionem prazer e, de preferência, o prazer imediato.

O conformismo, porque busca adaptar-se às circunstâncias, sem desejo de transformar a sociedade.

Vinculado a este comportamento, emerge a despolitização. O “sujeito pós-moderno” não participa em eleições e nem em outras formas de organização que impliquem em responsabilidades sociais e políticas; dá as costas para as grandes causas, tais como: a luta pela paz, o combate à fome, a luta contra as desigualdades sociais e econômicas.

Após 75 anos das bombas atômicas atiradas no Japão e em plena pandemia do COVID-19, somos desafiados a pensar sobre o sentido da existência humana. De acordo com os filósofos e filósofas existencialistas: o ser humano é “lançado ao mundo”, como um bebê quando nasce. É um ser imperfeito, inacabado e aberto para se fazer e se refazer. Mas a autoconstrução não se faz por si só, ela também depende das circunstâncias históricas. E, na medida em que o ser humano constrói a sua própria existência, ele também deve lutar para que as circunstâncias sociais mudem para melhor.

Os filósofos e filósofas existencialistas alertam para o fato de que a existência não consiste numa longa jornada marcada pelo crescimento, pelo sucesso e pelo progresso. Também faz parte da existência as doenças, as guerras, as injustiças, o envelhecimento e a morte. Portanto, é indispensável, a luta constante contra a exploração social, o enfrentamento da angústia interior e de todo tipo de sofrimento humano.

Em suma, existir implica na relação da pessoa consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza, os animais e com as coisas. Um enfrentamento constante, mas libertador e parte fundamental na construção de uma sociedade onde caibam todos e todas. Uma sociedade que valorize a vida e a vida em plenitude.

Sugestões:

1) O estudo sobre a Pós-Modernidade é vasto. Recomendo para introdução o livro: “O que é pós-moderno”, do escritor Jair Ferreira dos Santos, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense.

2) Sobre o Existencialismo, corrente filosófica importantíssima principalmente no Século XX, tem uma quantidade enorme de livros, filmes, documentários, peças de teatro etc. Recomendo como introdução o livro: “O Existencialismo é um Humanismo”, de Jean-Paul Sartre.

3) Sobre a Bomba de Hiroshima, o poeta e diplomata Vinícius de Moraes não ficou indiferente! Em 1954 ele publicou o poema “Rosa de Hiroshima”, que foi musicado em 1973 por Gerson Conrad, integrante da “Banda Secos e Molhados”. Esta música foi gravada pelo Ney Matogrosso e entrou para a lista das 100 melhores músicas brasileiras, segundo a Revista Rolling Stone.

Ney Matogrosso - Rosa de Hiroshima