quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A Bomba Atômica em Hiroshima e Nagasaki, 75 anos depois.



A Bomba Atômica em Hiroshima e Nagasaki, 75 anos depois.
(Autor: Francisco José Nunes)

No dia 6 de agosto de 1945 a cidade japonesa de Hiroshima foi atingida pela primeira bomba atômica da história da humanidade.

Eram 8h15 da manhã (hora local) quando o Boeing B-29, pilotado por Paul Tibbets, atirou a bomba, resultando na morte de cerca de 140 mil pessoas.

O avião foi batizado com o nome de “Enola Gay”, nome da mãe do piloto. Após afastar-se do local da explosão, o copiloto Robert Lewis, observou o tamanho da tragédia e indagou: “Deus, o que fizemos”?

Esta bomba não foi suficiente para obrigar o Imperador Hirohito a assinar o acordo de rendição.
No dia 9 de agosto, às 11h02, os EUA atiraram a segunda bomba atômica, desta vez na cidade de Nagasaki, resultando na morte de cerca de 70 mil pessoas.

A bomba atômica, além dos efeitos materiais, também resultou em inúmeros efeitos simbólicos. Dentre eles, o nascimento da “Pós-Modernidade”. Esta “condição pós-moderna” que os filósofos identificaram ao longo da segunda metade do Século XX.

A eclosão da Primeira e da Segunda Guerra Mundial , culminando com a explosão da bomba atômica, colocou em xeque os ideais da Modernidade. Caracterizada pela supervalorização: da Razão, da democracia burguesa e do desenvolvimento tecnológico. A morte de milhões de pessoas e a destruição de vários países, principalmente na Europa, evidenciou a “crise da Modernidade”. Algumas das questões colocadas foram: por que a Razão é incapaz de deter a barbárie? Por que o fascismo e o nazismo nasceram na Europa? Este modelo de “Civilização Ocidental Cristã” deve ser a referência para a humanidade?

A bomba atômica desencadeou uma série de mudanças na maior parte da humanidade. Dentre elas destacamos duas: o neo-individualismo e a despolitização.

Diferentemente do individualismo da modernidade (indivíduo livre e autônomo, superando o coletivismo da Idade Média e se apropriando das conquistas da Revolução Francesa), o neo-individualismo pós-moderno é caracterizado pelo descompromisso, pelo “não tô nem aí” e mais recentemente pela expressão popular: “foda-se”.

São características desse neo-individualismo: o narcisismo, o hedonismo e o conformismo. O narcisismo centrado no culto ao próprio corpo, atingindo uma espécie de “corpolatria”. Caracterizado pela grande ocupação de tempo na academia de educação física, exercitando os músculos; e, nos salões de beleza cuidando da estética pessoal.

O hedonismo ocupa o principal objetivo na vida da pessoa; adota-se o lema “Carpe diem”, isto é, aproveite o momento. Só faça coisas que proporcionem prazer e, de preferência, o prazer imediato.

O conformismo, porque busca adaptar-se às circunstâncias, sem desejo de transformar a sociedade.

Vinculado a este comportamento, emerge a despolitização. O “sujeito pós-moderno” não participa em eleições e nem em outras formas de organização que impliquem em responsabilidades sociais e políticas; dá as costas para as grandes causas, tais como: a luta pela paz, o combate à fome, a luta contra as desigualdades sociais e econômicas.

Após 75 anos das bombas atômicas atiradas no Japão e em plena pandemia do COVID-19, somos desafiados a pensar sobre o sentido da existência humana. De acordo com os filósofos e filósofas existencialistas: o ser humano é “lançado ao mundo”, como um bebê quando nasce. É um ser imperfeito, inacabado e aberto para se fazer e se refazer. Mas a autoconstrução não se faz por si só, ela também depende das circunstâncias históricas. E, na medida em que o ser humano constrói a sua própria existência, ele também deve lutar para que as circunstâncias sociais mudem para melhor.

Os filósofos e filósofas existencialistas alertam para o fato de que a existência não consiste numa longa jornada marcada pelo crescimento, pelo sucesso e pelo progresso. Também faz parte da existência as doenças, as guerras, as injustiças, o envelhecimento e a morte. Portanto, é indispensável, a luta constante contra a exploração social, o enfrentamento da angústia interior e de todo tipo de sofrimento humano.

Em suma, existir implica na relação da pessoa consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza, os animais e com as coisas. Um enfrentamento constante, mas libertador e parte fundamental na construção de uma sociedade onde caibam todos e todas. Uma sociedade que valorize a vida e a vida em plenitude.

Sugestões:

1) O estudo sobre a Pós-Modernidade é vasto. Recomendo para introdução o livro: “O que é pós-moderno”, do escritor Jair Ferreira dos Santos, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense.

2) Sobre o Existencialismo, corrente filosófica importantíssima principalmente no Século XX, tem uma quantidade enorme de livros, filmes, documentários, peças de teatro etc. Recomendo como introdução o livro: “O Existencialismo é um Humanismo”, de Jean-Paul Sartre.

3) Sobre a Bomba de Hiroshima, o poeta e diplomata Vinícius de Moraes não ficou indiferente! Em 1954 ele publicou o poema “Rosa de Hiroshima”, que foi musicado em 1973 por Gerson Conrad, integrante da “Banda Secos e Molhados”. Esta música foi gravada pelo Ney Matogrosso e entrou para a lista das 100 melhores músicas brasileiras, segundo a Revista Rolling Stone.

Ney Matogrosso - Rosa de Hiroshima

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