sábado, 6 de agosto de 2022

Colômbia e o desejo de paz através da justiça social

 

Poster de Francia Márquez, na "Casa de la Paz", em Bogotá.


Colômbia e o desejo de paz

através da justiça social


Autor: Francisco José Nunes


De: Bogotá


Neste domingo, dia 7 de agosto, o povo colombiano terá um novo governo, através da posse de Gustavo Petro e de Francia Márquez. Aqui em Bogotá é possível ouvir facilmente as manifestações de esperança vinda de populares, de intelectuais e dos mais variados segmentos da sociedade.


Desde o início do século XX os movimentos populares já faziam esforços para construir a democracia no país, sofrendo sucessivas derrotas. Culminando com a opção feita por parte dos setores de esquerda pela luta armada revolucionária. Para enfrentar as guerrilhas, as oligarquias colombianas organizaram milícias paramilitares, que também combateram as lideranças sindicais e os movimentos populares. A quantidade de assassinatos e massacres é enorme. Acrescente-se a este ambiente conflitivo o crescimento do narcotráfico e a absurda campanha “Guerra às drogas”, liderada pelos EUA. Neste ambiente, os guerrilheiros passaram a cobrar impostos dos narcotraficantes e parte dos políticos passaram a entrar nos negócios das drogas, transformando-se em “narcopolíticos”.


O obstáculo para a adoção do regime democrático na Colômbia tem raízes semelhantes aos demais países da América Latina. Tais como: necessidade de realização da Reforma Agrária, de uma Reforma Tributária, de universalização da saúde e da educação, do reconhecimento das culturas afrocolombiana e dos povos indígenas. O novo governo pretende ir além, ao incluir ações profundas na defesa do meio ambiente, do cumprimento do Acordo de Paz realizado em 2016 (entre o Governo e as FARC) e melhorar a sua integração regional.


Preparativos para a posse, na Praça Bolívar, Bogotá.


É possível imaginar as gigantescas dificuldades. Entretanto, os movimentos populares estão muito esperançosos e o novo governo tem renovado seu compromisso com as mudanças. O presidente Gustavo Petro tem um vasto currículo marcado por ações transformadoras, ele foi prefeito de Bogotá e implantou inúmeras medidas importantes no âmbito do meio ambiente, da cultura e da administração pública. Por seu turno, a vice-presidenta Francia Márquez tem uma rica história de lutas ambientalistas e em defesa do povo afrocolombiano.


Banner nas proximidades da Praça Bolívar, em Bogotá.


Os movimentos populares colombianos olham para o Brasil com muita esperança. Considerando que a eleição do Presidente Lula será importantíssima para o fortalecimento de uma onda de mudanças nos países da América Latina. O compromisso com o crescimento econômico, a geração de empregos e renda, a defesa dos povos negro e indígena, as medidas de defesa do meio ambiente e o reingresso nos BRICS, serão o início das mudanças.


No livro “Cem anos de solidão”, Gabriel García Márquez diz que: “O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava de apontar com o dedo”. Ainda não temos nomes, conceitos, expressões, para nomear o que desejamos para a América Latina e, em especial, para a Colômbia, mas podemos apontar o dedo na direção de uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.


Boa sorte para Gustavo Petro e Francia Márquez!



Francisco José Nunes

Mestre em Ciências Sociais (PUC-SP), Graduado em Filosofia (UNIFAI-SP), Professor na Faculdade Paulista de Comunicação (FPAC) e membro do movimento Círculo Palmarino.

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