terça-feira, 18 de junho de 2019

O Julgamento de Sócrates

"A morte de Sócrates", quadro de Jacques-Louis David (1787)


O Julgamento de Sócrates

          Vivemos tempos sombrios no Brasil, caracterizado pela perseguição ao Ensino de Filosofia e a prática do “lawfare”, isto é, quando o Sistema Judiciário é usado para fazer perseguição política.

          Estes acontecimentos nos remetem ao “Julgamento de Sócrates”, que ficou eternizado na obra de Platão intitulada: “Defesa de Sócrates”. Algumas editoras também traduzem por: “Apologia de Sócrates”.

          Sócrates foi julgado e condenado no ano 399 a.C., em Atenas. Foi condenado a tomar cicuta, um veneno mortal. O filósofo morreu aos 70 anos de idade.

As acusações para o seu julgamento foram:


         1ª) Não aceitar os deuses de Atenas;
         2ª) Introduzir novas divindades em Atenas;
         3ª) Corromper a juventude ateniense.

         Em que consistiam estas acusações?

         1º) Os deuses oficiais do Estado são, na maioria das vezes, em todos os povos, manipulados para legitimar os políticos que estão no poder. Considerando que a Democracia Grega estava em decadência, por vários motivos, dentre eles a ascensão de um grupo de políticos autoritários que assaltavam o poder em Atenas.

         Outro motivo foi o período da decadência das Escolas dos Sofistas, que transformaram a Democracia em demagogia, que aqui podemos resumir na expressão: “arte de manipular e agradar o povo”. Através de promessas que certamente não serão cumpridas; ou da adoção de medidas que agradam parte da sociedade, mas prejudica a maioria. Por exemplo: relaxar o rigor da fiscalização das Leis de Trânsito e da Legislação sobre o Meio Ambiente.

         Tudo isso legitimado por um discurso religioso, com as autoridades religiosas e políticas atuando em sintonia.

Sócrates era implacável em suas críticas, especialmente usando da ironia, isto é, do questionamento sistemático desse tipo de manipulação religiosa.


         2º) Sobre as novas divindades. Sócrates se referia a um certo “daímon”, isto é, “uma potência divina”, que também podemos chamar de razão. Ou seja, Sócrates ajudava as pessoas a pensar com a própria cabeça, mas os seus adversários preferiam classificar o exercício do pensamento como algo perigoso e por isso foi apresentada a seguinte alternativa: se Sócrates parasse de filosofar, seria absolvido. Mas Sócrates disse que deixar de filosofar seria o mesmo que morrer, por isso, não abandonaria a Filosofia.


         3º) Corromper a juventude. A juventude ateniense era instruída pelos Sofistas, que ensinavam os jovens a serem bons oradores, a serem convincentes a qualquer custo e a buscarem o sucesso a qualquer preço.

         Ora, Sócrates ensinava os jovens a questionar os Sofistas, os Políticos, os Militares, os Comerciantes, os Líderes Religiosos. Isso passou a incomodar muito os poderosos.

         Por incrível que pareça, esta história é muito atual. Por isso, a Filosofia continua perigosa depois de 2.500 anos após a morte de Sócrates.

         Vamos concluir com a citação de uma passagem do livro “Defesa de Sócrates”, onde ele fala sobre o papel do juiz:

         “Atenienses, não me parece ser justo fazer preces ao juiz e conseguir fazer preces ao juiz e conseguir absolvição por meio de súplicas. Ao juiz, é preciso dar esclarecimentos e procurar convencê-lo, pois o juiz não tem assento no tribunal para fazer da justiça um favor, mas para decidir o que é justo. Não fez o juramento para favorecer o que lhe agrade, mas para julgar segundo as leis”.


Bibliografia

BENOIT, Hector. Sócrates: o nascimento da razão negativa. São Paulo: Editora           Moderna, 1996.
CHAUI, Marilena. Sócrates: o elogio da Filosofia. In: Introdução à História da     Filosofia – Dos Pré-Socráticos a Aristóteles – Volume I. São Paulo: Companhia das   Letras, 2002.
PLATÃO. Defesa de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção Os   Pensadores.