"A morte de Sócrates", quadro de Jacques-Louis David (1787)
O Julgamento de
Sócrates
Vivemos tempos sombrios no Brasil, caracterizado pela
perseguição ao Ensino de Filosofia e a prática do “lawfare”, isto é, quando o
Sistema Judiciário é usado para fazer perseguição política.
Estes
acontecimentos nos remetem ao “Julgamento de Sócrates”, que ficou eternizado na
obra de Platão intitulada: “Defesa de Sócrates”. Algumas editoras também
traduzem por: “Apologia de Sócrates”.
Sócrates
foi julgado e condenado no ano 399 a.C., em Atenas. Foi condenado a tomar
cicuta, um veneno mortal. O filósofo morreu aos 70 anos de idade.
As acusações para o seu julgamento foram:
1ª) Não
aceitar os deuses de Atenas;
2ª)
Introduzir novas divindades em Atenas;
3ª)
Corromper a juventude ateniense.
Em que
consistiam estas acusações?
1º) Os
deuses oficiais do Estado são, na maioria das vezes, em todos os povos,
manipulados para legitimar os políticos que estão no poder. Considerando que a
Democracia Grega estava em decadência, por vários motivos, dentre eles a
ascensão de um grupo de políticos autoritários que assaltavam o poder em Atenas.
Outro
motivo foi o período da decadência das Escolas dos Sofistas, que transformaram
a Democracia em demagogia, que aqui podemos resumir na expressão: “arte de
manipular e agradar o povo”. Através de promessas que certamente não serão
cumpridas; ou da adoção de medidas que agradam parte da sociedade, mas
prejudica a maioria. Por exemplo: relaxar o rigor da fiscalização das Leis de
Trânsito e da Legislação sobre o Meio Ambiente.
Tudo
isso legitimado por um discurso religioso, com as autoridades religiosas e
políticas atuando em sintonia.
Sócrates era implacável em suas críticas,
especialmente usando da ironia, isto é, do questionamento sistemático desse
tipo de manipulação religiosa.
2º)
Sobre as novas divindades. Sócrates se referia a um certo “daímon”, isto é, “uma
potência divina”, que também podemos chamar de razão. Ou seja, Sócrates ajudava
as pessoas a pensar com a própria cabeça, mas os seus adversários preferiam
classificar o exercício do pensamento como algo perigoso e por isso foi
apresentada a seguinte alternativa: se Sócrates parasse de filosofar, seria
absolvido. Mas Sócrates disse que deixar de filosofar seria o mesmo que morrer,
por isso, não abandonaria a Filosofia.
3º)
Corromper a juventude. A juventude ateniense era instruída pelos Sofistas, que
ensinavam os jovens a serem bons oradores, a serem convincentes a qualquer
custo e a buscarem o sucesso a qualquer preço.
Ora,
Sócrates ensinava os jovens a questionar os Sofistas, os Políticos, os
Militares, os Comerciantes, os Líderes Religiosos. Isso passou a incomodar muito
os poderosos.
Por
incrível que pareça, esta história é muito atual. Por isso, a Filosofia
continua perigosa depois de 2.500 anos após a morte de Sócrates.
Vamos
concluir com a citação de uma passagem do livro “Defesa de Sócrates”, onde ele
fala sobre o papel do juiz:
“Atenienses,
não me parece ser justo fazer preces ao juiz e conseguir fazer preces ao juiz e
conseguir absolvição por meio de súplicas. Ao juiz, é preciso dar
esclarecimentos e procurar convencê-lo, pois o juiz não tem assento no tribunal
para fazer da justiça um favor, mas para decidir o que é justo. Não fez o
juramento para favorecer o que lhe agrade, mas para julgar segundo as leis”.
Bibliografia
BENOIT, Hector. Sócrates:
o nascimento da razão negativa. São Paulo: Editora Moderna, 1996.
CHAUI, Marilena. Sócrates:
o elogio da Filosofia. In: Introdução
à História da Filosofia – Dos Pré-Socráticos a Aristóteles – Volume I. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002.
PLATÃO. Defesa
de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção Os Pensadores.