domingo, 10 de abril de 2022

Afeganistão coloca os correspondentes de guerra em evidência

 

Documentário "Morrer para contar" (Foto: Netflix)

Afeganistão coloca os correspondentes de guerra em evidência


Por: Francisco José Nunes




A derrota dos EUA no Afeganistão, com sua retirada caótica no final de agosto passado, colocou em evidência os correspondentes de guerra. O documentário “A vida pela notícia” (2018), produzido pelo jornalista e cineasta Hernán Zin, faz um ótimo panorama sobre o trabalho e os dramas vividos por esses profissionais. 


Hernán Zin nasceu em Buenos Aires (Argentina) e está radicado em Madrid (Espanha). Ele trabalhou em mais de 80 países, publicou vários livros e produziu inúmeros documentários. A motivação para produzir esse documentário surgiu de uma indagação a respeito de um incidente vivido por ele no Afeganistão, em 2012, quando sofreu um ataque de pânico, saiu do tanque onde estava e começou a andar. Ele queria saber porque isso aconteceu. Então decidiu entrevistar vários correspondentes de guerra e percebeu que a maioria deles e delas também sofrem com: pensamentos suicidas, depressão, medo de pequenos espaços, entre outros males.


Dentre os mais de dez correspondentes de guerra entrevistados para o documentário, vamos destacar três aqui.


A repórter do jornal espanhol “El Mundo”, Rosa Meneses, especialista em Oriente Médio e Magreb (região nordeste do continente africano), que fez cobertura da guerra no Líbano, na Líbia, entre outros conflitos. Ela é professora na Universidade Complutense de Madrid e autora de vários livros.


Outro correspondente de guerra entrevistado é Javier Bauluz, natural de Oviedo (Espanha), fotógrafo e o primeiro espanhol a receber o Prêmio Pulitzer, além de ter recebido diversos outros prêmios. Fez a cobertura de muitos conflitos na América Central, África, Balcãs e Oriente Médio.


O documentário também entrevistou Carmen Sarmiento, uma jornalista natural de Madrid (Espanha), hoje com 76 anos. Fez a cobertura de inúmeros conflitos, dentre eles: as revoluções na Nicarágua e em El Salvador, a guerra no Líbano, os golpes de estado em Portugal, Argentina, Granada e Gana. Ela é uma destacada ativista feminista.


Em que pese esses correspondentes trabalharem para os grandes grupos empresariais de mídia, o que implica reproduzir a doutrina atlanticista, imposta pela OTAN, vale a pena assistir o documentário. Trabalhar para os grandes grupos de mídia obriga o profissional a reproduzir uma narrativa elaborada a partir de uma visão eurocêntrica e em sintonia com os interesses da Casa Branca, onde são produzidas classificações e regras para usar um vocabulário específico, tais como: tal país é democrático e tal país é uma ditadura, tal presidente é democrático e tal presidente é um ditador, tal político é democrático e tal político é um terrorista. O documentário é importante por tratar do Afeganistão, da vida de profissionais dedicados ao jornalismo e, em muitos casos, comprometidos com os direitos humanos e com a justiça social.


Serviço:


Título: A vida pela notícia (2018)

Título original: Morir para contar


Documentário espanhol

Direção: Hernán Zin

Tempo: 87 minutos

Plataforma: Netflix



Autor:

Francisco José Nunes

Mestre em Ciências Sociais - PUC-SP; Graduado em Filosofia; Professor

na Faculdade Paulista de Comunicação - FPAC.






P.S.: Este artigo foi publicado originalmente no site

"Construir Resistência", no dia 03 de setembro de 2021.


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