quinta-feira, 7 de abril de 2022

Sobre o editorial da Folha "Ensaio de ditador" (06/08/2021)

 

Avenida Paulista, vista do Mirante do Sesc 
(Foto: Francisco José Nunes)


Sobre o editorial da Folha “Ensaio de ditador” (06/08/2021)


Por: Francisco José Nunes



Quando a Folha diz que a “Inação de PGR e Congresso põe a democracia em risco”. É importante frisar que a democracia acabou quando a Folha e os demais grupos de comunicação apoiaram a “Lava Jato”, que culminou no Golpe de 2016 (“com o STF, com tudo”). Que a Folha proibiu os seus jornalistas de escrever que o candidato à Presidência era um “político de extrema direita”.


É impressionante como o Grupo Folha gosta de passar vergonha em público”! Quer dizer que apenas 30 anos depois de ter entrado na vida pública é que a Folha descobriu que o atual presidente é um “Ensaio de ditador”. Aquele que tem por herói o torturador e assassino Brilhante Ustra!


A Folha está equivocada ao afirmar que há “ausência de governo”. Muito pelo contrário! O governo está cumprindo religiosamente o que prometeu na campanha: desmonte da Previdência Pública, desmonte da Legislação Trabalhista, desmonte do Funcionalismo Público, desmonte do Ensino Público, desmonte do SUS, desmonte da Ciência e Tecnologia, desmonte da Legislação Ambiental, autonomia total do Banco Central, venda “a preço de banana” do Patrimônio Público (Petrobrás, Eletrobrás, Correios etc), “bolsa banqueiros”, benefícios escandalosos para os militares, “liberô geral” para a compra de armas e munição (em benefício dos milicianos e dos “cidadãos de bem”). A lista é interminável!


A própria Folha denunciou o uso de “disparos em massa” de mensagens na internet durante as eleições de 2018 e ficou por isso mesmo. Só esse crime já seria suficiente para anular a eleição da chapa. Não bastasse a prisão ilegal do candidato que estava em primeiro lugar durante a campanha.


O cinismo da Folha é tão grande que, ao relacionar alguns dos problemas econômicos: alta no desemprego, aumento nos preços da energia, dos produtos alimentícios, dos combustíveis, dos aluguéis, fuga de investidores, desvalorização do real, agressão aos parceiros comerciais etc. A Folha não reconhece que abraçou e se beneficia da agenda neoliberal capitaneada pelo Ministro Paulo Guedes.


A Folha reclama a respeito da falta de exame dos mais de 100 pedidos de impeachment, cobra de Arthur Lira (PP-AL), mas omite o papel nefasto de Rodrigo Maia (ex-DEM-RJ).


A Folha cinicamente apela para as instituições, para que impeçam o presidente de aprofundar o golpe e de acabar com essa fachada de democracia. Mas a Folha não diz que esse estado de coisas conta com o apoio de instituições poderosas: os banqueiros, os empresários, o agronegócio, os magnatas da comunicação, a maioria dos católicos, a maioria dos evangélicos, os militares, o Judiciário, o CFM, a OAB. A lista é enorme.


Não se pode esperar nada, em benefício da democracia, que venha de um jornal que apoiou o Golpe de 1964, forneceu caminhonetes para os grupos da repressão, afirmou em editorial que foi apenas uma “ditabranda”, surfou na “Campanha das Diretas Já”, mas entregou a “eleições indiretas”.


Não assino e nem leio a Folha diariamente há muito tempo. Li esse editorial por recomendação de alguns amigos. Lamentavelmente muitos amigos continuam assinando a Folha e o UOL. Muitos continuam escrevendo e dando entrevista para estes veículos. É preciso mais do que nunca deslegitimar esses “latifúndios da comunicação”. É preciso fortalecer a imprensa independente e de esquerda. É preciso combater o mito da “neutralidade da imprensa”.



Autor:

Francisco José Nunes

Mestre em Ciências Sociais - PUC-SP; Graduado em Filosofia; Professor na Faculdade Paulista de Comunicação - FPAC.


P.S.: Este artigo foi publicado originalmente no site "Construir Resistência", no dia 07 de agosto de 2021.


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