O 11 de setembro chileno
Por: Francisco José Nunes
No dia 11 de setembro de 1973 o "Palácio de La Moneda”, sede do governo chileno, foi bombardeado por aviões das Forças Armadas Chilenas, com o apoio do governo dos EUA. Esse bombardeio resultou na morte do Presidente Salvador Allende e na tomada do poder pelo General Augusto Pinochet.
O General Pinochet implantou uma das ditaduras mais sanguinárias da América Latina. Torturou, assassinou e desapareceu com milhares de pessoas. Essa ditadura foi de 1973 até 1990.
Os grupos de mídia hegemônicos, após 2001, passaram a repercutir o atentado ocorrido nas Torres Gêmeas de Nova Iorque, no dia 11 de setembro, ofuscando o atentado contra o Palácio de La Moneda, em Santiago do Chile. Ano após ano evidencia-se a hipótese de que as torres 1, 2 e 7 sofreram uma “demolição programada”, conforme relata o documentário: “9/11: Provas Explosivas - Falam os especialistas”. Os objetivos desse atentado caseiro seriam o de aumentar as restrições às liberdades nos EUA e legitimar as guerras promovidas pelos EUA em diversas regiões do planeta.
Para refletir sobre esses episódios e suas implicações nos dias de hoje, um bom caminho é a análise do filme “Machuca” (2004), dirigido pelo cineasta chileno Andrés Wood (“Violeta foi para o céu”).
O filme “Machuca” conta a história de dois garotos de onze anos, que vivem em Santiago do Chile. Entretanto, existe um abismo social entre eles, já que Gonzalo Infante pertence à classe alta e Pedro Machuca é miserável e mora numa favela (“población”). Eles se conhecem numa escola católica frequentada por filhos da elite econômica chilena. O diretor da escola, o padre McEnroe, inspirado nas políticas sociais implementadas pelo Presidente Salvador Allende, decide criar vagas destinadas a garotos pobres. É importante registrar que neste período nascia a Teologia da Libertação na América Latina, em oposição à teologia tradicionalista, que sempre predominou na Igreja Católica.
O garoto Pedro Machuca foi estudar neste colégio, mas foi recebido com hostilidade pelos demais garotos, com exceção de Gonzalo, que o protegeu e com o qual fez amizade.
Ao longo do filme, também assistiremos a reação dos pais dos alunos ricos, contrários à presença de alunos pobres naquele colégio. O encontro entre esses dois garotos ocorreu em 1973 e o filme mostra os sinais do Golpe de Estado que estava a caminho: os empresários boicotando a entrega de produtos, ocasionando o desabastecimento dos supermercados; as atitudes violentas dos militares na favela; as passeatas contra e a favor de Allende.
O golpe no Chile em 1973 levou a esquerda a refletir sobre a sua participação no “jogo democrático burguês”. Da mesma forma como aconteceu no Brasil em 1964 e mais recentemente em 2016, percebe-se que “a burguesia é democrática até a página 2”. Depois que perde nas urnas, dá um golpe e toma o governo novamente.
Depois de Cuba, apenas a Venezuela conseguiu romper com este círculo vicioso. Mas ambos os países pagam um preço muito alto por essa escolha. São penalizados duramente pelo bloqueio estadunidense. A Bolívia, atualmente, está em processo de retomada e de construção do poder popular.
Ficam aqui as duas sugestões: o filme chileno e o documentário estadunidense.
Serviço:
Filme: “Machuca” (2004) - 120 minutos
Direção: Andrés Wood
Plataforma: Netflix
Documentário: “9/11: Provas Explosivas - Falam os especialistas” (2011) - 89 minutos.
Direção: Richard Gage
Plataforma: Youtube e Netflix
Autor:
Francisco José Nunes
Mestre em Ciências Sociais - PUC-SP; Graduado em Filosofia; Professor
na Faculdade Paulista de Comunicação - FPAC.
P.S.: Este artigo foi publicado originalmente no site
"Construir Resistência", no dia 11 de setembro de 2021.
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