O Nazismo e a destruição de Berlim
Por: Francisco José Nunes
Estreou recentemente na plataforma Netflix a série “Sombras da Guerra”, com apenas uma temporada e oito episódios. A série aborda o período de reconstrução da cidade de Berlim após a Segunda Guerra Mundial. A série faz uma ótima recriação de época e situa a trama no verão de 1946 (o verão na Alemanha vai de 22 de junho até 22 de setembro).
A trama gira em torno do policial nova-iorquino Max McLaughlin (Taylor Kitsch), que é enviado a Berlim para treinar a polícia local de acordo com os padrões da polícia estadunidense. Ele vai contar com o apoio da policial alemã Elsie Garten (Nina Hoss), uma especialista em Linguística, que além de falar alemão, também fala inglês e russo. Mas além de cumprir sua missão oficial, Max pretende localizar o seu irmão Moritz (Logan Marshall-Green), que está desaparecido na Alemanha.
A situação de Berlim é lastimável: muitas mulheres prostituídas, muitas crianças órfãs, todas passando fome e todo tipo de necessidades. A cidade está sob escombros, com muitas ruínas; com os serviços de água, energia elétrica, gás, transporte e abastecimento, todos colapsados.
Em torno da trama principal, giram inúmeras subtramas, com muitas reviravoltas e com muitas informações, compactadas em apenas oito episódios. Tem grupos e pessoas agindo individualmente na caça de nazistas fugitivos; tem uma espécie de “Al Capone de Berlim”; tem um diplomata que organiza a fuga de lideranças nazistas para fora do continente europeu.
A série mostra os sinais do início da “Guerra Fria”, principalmente porque a cidade de Berlim foi dividida em quatro partes, pelos principais países que venceram a guerra: Rússia, EUA, Inglaterra e França. Há uma tentativa maniqueísta de colocar os estadunidenses como os “defensores da liberdade” e os russos com os “totalitários”. Mas o conflito que acaba ganhando evidência é o caso de um diplomata estadunidense que organiza planos de fuga para as lideranças nazistas.
Como é sabido, o Hitler se inspirou no sistema de segregação racial dos EUA para construir o seu modelo de sociedade de “raça superior”. Basta um voo panorâmico na história dos EUA para perceber que eles sempre estiveram longe de representar “o reino da liberdade”. Basta perguntar para a sua população negra e indígena.
Quanto aos planos de fuga para as lideranças nazistas a série não detalha, mas hoje se sabe que haviam várias rotas de fuga (ratline). A principal chamava-se “Rota do Vaticano” (por onde passaram 90% dos nazistas), que era uma rede baseada em vários mosteiros entre o percurso da Alemanha até a Itália. Com o apoio de padres e bispos, a igreja católica fornecia documentação falsa para as lideranças nazistas e estes criminosos embarcavam para a América do Sul, a maioria foi para a Argentina. Alguns tornaram-se assessores do Presidente Juan Domingos Perón.
Esta série tem importância, por sua qualidade estética, mas também pode inspirar muitas pessoas que vivem num certo país da América do Sul, que no momento está sendo devastado por hordas fascistas, e que necessitará de muita disposição de luta antifascista e de muita imaginação criativa para reconstruir o país.
Serviço:
Série: Sombras da Guerra (2021)
Título original: The Defeated
Criação: Mans Marlind
Países de origem: França, Canadá, Alemanha
Temporadas: 1 - Episódios: 8
Duração aproximada de cada episódio: 45 minutos
Autor:
Francisco José Nunes
Mestre em Ciências Sociais - PUC-SP; Graduado em Filosofia; Professor
na Faculdade Paulista de Comunicação - FPAC.
P.S.: Este artigo foi publicado originalmente no site
"Construir Resistência", no dia 08 de outubro de 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário